DEUS, O HOMEM, O EGO, A FORMIGUINHA E O TRABALHO

22/10/2015 20:59

 

 

  Ilustração:   Cristina Alves

 

 

Certo dia, minutos antes de encerrar o expediente, o Homem foi advertido severamente pelo seu Supervisor, na frente dos seus colegas de trabalho. O Supervisor  alegava que uma atitude do Homem havia causado um grande problema. O fato é que o Supervisor cometeu um engano e por fim descobriu-se que não havia problema algum com o que se preocupar. Como já estavam encerrando o expediente, no meio da agitação do fim do dia,  não houve tempo para um pedido de desculpas e isso fez com que o Homem ficasse muito indignado.

O Homem até tentou cessar o sentimento de indignação, mas não conseguiu. Como já havia aprendido com a Formiguinha que deveria procurar “fazer sempre o seu melhor”, o Homem começo a matutar:

_Como seria fazer o meu melhor em uma situação destas? Afinal eu tomei um corretivo sem ter culpa no cartório, passei a maior vergonha na frente dos meus colegas e como se não bastasse, não recebi nem um pedido de desculpas.

 

   O que seria fazer o meu melhor nesta situação? Fazer de conta que nada aconteceu, mesmo sentindo-me injustiçado? Não, acho que isso seria uma falta de respeito com a minha pessoa. Conversar com o Supervisor, abrir meu coração e contar o quanto fiquei magoado com o ocorrido? Não “ficar magoado” soa como falta de maturidade. Quem sabe “devolver na mesma moeda” jogando na cara do Supervisor, na frente de todo mundo, que eu fui advertido impropriamente? Não isso parece um ato de rebeldia, insubordinação.

 

O Homem já havia passado por diversas chateações na empresa, mas desta vez foi diferente, porque ele se sentiu diminuído, muiiiito diminuído. Cheio de dúvidas, o Homem que estava acostumado com o fato de que a Formiguinha sempre aparecia no seu caminho quando ele estava em uma situação difícil, passou horas sentado no banco da praça esperando por  ela, mas desta vez a Formiguinha não apareceu.

 

Quando já era tarde da noite, cansado de esperar o Homem foi para casa. Nesta noite ele rolou de um lado para outro em sua cama, mas não conseguiu pegar no sono de tanto pensar.  Ele estava vivendo um verdadeiro emaranhado de sentimentos, queria fazer o seu melhor, mas não queria permitir que os outros maltratassem a sua pessoa, afinal ele já havia aprendido que era necessário saber preservar o seu espaço, a sua integridade.

 

Cansado de tanto pensar, e sem saber o que fazer, o Homem suplicou a DEUS:

 

_Oh DEUS, o Senhor que tudo sabe, me dê uma orientação, faça com que eu saiba o que fazer neste momento, me liberte desta angústia!

Mas foi só quando já estava quase para amanhecer o dia, que o Homem teve a seguinte ideia:

 

E se ao invés de expor as minhas fragilidades eu agendar uma entrevista com o Gerente do departamento e o Diretor da empresa, contar o ocorrido e alegar que só estou expondo a situação porque eu quero saber qual é a posição da Empresa sobre 2 aspectos:

 

_Qual a dimensão que a Empresa dá aos problemas?

 

_Como é que a Empresa lida com o ERRO de seus funcionários?

 

A fim de convencer-se de que esta era a melhor maneira de passar a situação a limpo sem demonstrar suas fragilidades, o Homem dizia a si mesmo: _ Afinal o Supervisor deu uma dimensão EXAGERADA ao suposto problema e foi muito severo com um ERRO que nem existiu. Como será se algum dia Eu cometer um ERRO de verdade? Como posso EU, ter iniciativa para tomar decisões, se corro o risco de passar  por  tudo isso novamente. A Empresa precisava posicionar-se neste caso a fim de inibir atitudes impróprias, por parte de “certos Supervisores”.

 

E foi assim, munindo-se da máscara de justiceiro que o Homem sentiu-se no direito de tomar o tempo do Gerente do departamento e do Diretor da Empresa.

 

Logo que teve a oportunidade de estar com o Gerente, contou-lhe o ocorrido e esperou para ouvir o que ele tinha a lhe dizer. O Gerente que sabia da importância do trabalho do Homem para a Empresa, tratou de colocar panos quentes na história. Pediu ao Homem que relevasse a atitude do Supervisor e encerrou a conversa tecendo-lhe elogios e reconhecendo o seu valor. Isto fez com que o Homem se sentisse melhor, mas não foi o suficiente.

 

A conversa com o Diretor não foi diferente, em seu discurso ele deixou clara a intenção de apaziguar a situação e encerrou o assunto com uma sequência de elogios e reconhecimentos. O fato é que aquela conversa também não deu ao Homem a sensação de assunto encerrado, ele ainda sentia-se injustiçado e foi, com a segurança de quem sabia que a Empresa precisava dos seus serviços, que ele resolveu ter com o Supervisor.

 

Quando chegou a sala do Supervisor contou-lhe de imediato que conversara  com o Gerente e com o Diretor, porque havia ficado muito indignado com a situação do dia anterior. O Supervisor olhou para o Homem, tamborilou os dedos sobre a mesa e disse:

 

_Você está fazendo uma tempestade num copo d’agua. O seu problema é que você leva tudo para o pessoal. Aposto que nem dormiu a noite.

 

Quando o Homem ouviu isso, sentiu como se o Supervisor fosse o único que o conhecesse muito bem e pior, ele sabia das suas fragilidades. Vendo que o Homem estava sem palavras, o Supervisor continuou:

 

_ O fato é que outros problemas vão acontecer e não existe um manual para dizer as pessoas como se comportarem. As pessoas não vão mudar, Eu não vou mudar ! E ai? Como é que você vai agir da próxima vez em que nós tivermos um problema? Como é que você vai agir quando eu cometer outro engano com você? E foi assim que o Homem viu o feitiço virar contra o feiticeiro. Vendo que não havia nada que pudesse ser dito naquela hora, o Homem encerrou a conversa dizendo meio que em tom de brincadeira:

 

_Bom, já que nada pode ser feito,  já que as pessoas não vão mudar,  já que você não vai mudar, vamos esperar pela próxima vez, para ver como as coisas vão acontecer.

 

E foi essa a maneira que o Homem encontrou, para retirar-se da sala sem causar mais constrangimentos. Ele podia esperar qualquer tipo de resposta do Supervisor, menos aquela e, por mais absurdo que pudesse parecer , apesar da rudeza do Supervisor, ele estava com a razão. As pessoas não iriam mudar, o Supervisor não iria mudar. Como seria na próxima vez em que coisa semelhante acontecesse? E quando alguém lhe tratasse de forma injusta? Ele ia perder mais uma noite de sono?

 

Como já estava na hora de encerrar o expediente, o Homem fechou suas gavetas, pegou a sua pasta e saiu, mudo, como se não existisse ninguém ao seu redor.

 

Cansado, tudo o que o Homem mais queria naquele momento era chegar logo em casa, mas ele já estava atravessando a praça para alcançar o ponto de ônibus quando ouviu alguém lhe chamando, era a Formiguinha.

 

Assim que viu a Formiguinha, o Homem já foi logo dizendo:

 

_Eu não acredito! É agora que você me aparece? Agora que eu já meti os pés pelas mãos!

 

E foi com aquela calma de sempre, quase de outro mundo, que a Formiguinha respondeu:

 

_Eu estive observando tudo o que lhe aconteceu, mas não pude aparecer antes, porque era um caso clássico de EGO. E quando é assim, há pouca coisa que eu possa fazer.

 

_Como assim? Indagou o Homem.

 

_Era necessário que você passasse pela situação para compreender que “as pessoas não vão mudar”.

 

_Nossa, isso era tudo o que eu precisava ouvir! Você não tem nada mais interessante para me dizer?

 

_Tenho sim! É importante compreender que você faz parte deste grupo chamado “as pessoas”, e que você não muda, porque o seu EGO não deixa. O seu Ego é como um gigante que mora dentro de você. Ele pode estar dormindo, mas no menor sinal de “risco” ele desperta.  Tudo o que ele quer é que  as outras pessoas saibam que é ele quem manda. Foi ele quem não te deixou  dormir pensando em como dominar a situação. O fato é que embora este Gigante seja muito astuto, ele não procura ver a realidade dos fatos, nem tão pouco as consequências das suas atitudes.

 

_Bom Formiguinha, até agora você não ajudou muito! Primeiro diz que eu sou “ uma das pessoas que não quer mudar”, depois diz que dentro de mim tem um gigante chamado EGO, que só quer saber de dominar a situação.  Quer dizer que mesmo sendo eu o injustiçado, eu é que tenho que mudar? E como se não bastasse se eu busco por justiça,  eu estou querendo dominar a situação!  Oras isso é demais!!!! Agora eu entendi porque você não apareceu antes!!!!Realmente não ajudou em nada!!!!

 

_Calma amigo...disse a Formiguinha muito bem humorada. Será que você não consegue perceber que se ninguém mudar, da próxima vez vai ser tudo igual.

Estas últimas palavras da Formiguinha deixaram o Homem desprovido de argumentação e meio a contra gosto ele respondeu:

 

_Sim. É claro que eu percebo, mas mudar o que? Como?

 

_ Bom, a primeira coisa a fazer é procurar reconhecer quando é o EGO que está te levando a agir.  O EGO costuma super dimensionar os fatos. Mantenha o FOCO no que é real, no que realmente importa.

Se sentir a necessidade de impor um ponto de vista a qualquer preço, reconheça que esta é uma necessidade do EGO e não sua, lembre-se que existe uma grande diferença entre expor e impor uma ideia.

  Diante de qualquer situação de opressão, ou injustiça mantenha a intenção de ser a PAZ, respire fundo, conte até dez e simplesmente não faça nada, só se permita uma atitude, quando já estiver em paz. Lembre-se, não dê a NINGUÉM o poder de roubar a sua paz.

   Quando sentir-se “diminuído” perante alguém, lembre-se que você não precisa ter o seu valor reconhecido pelo outro, desde que você mesmo o reconheça. Se aquilo que o outro falou colocou em dúvida o que você pensava de si mesmo, então talvez seja a hora de mudar para sentir-se uma pessoa melhor.

   Por fim, antes de obedecer o seu EGO e meter os pés pelas mãos, lembre-se que tudo na vida tem um preço, será que vale a pena pagar o preço diante da possibilidade de se indispor com alguém. Lembre-se que se for para dizer coisas que possam colocar em risco uma relação, o que vai ser dito tem que realmente fazer diferença no resultado da conversa.

  

_Falando assim até parece fácil, mas na hora da raiva....

_ Foi por isso que eu falei que em casos de EGO, eu pouco posso ajudar. Trata-se de uma questão de ESCOLHA. Eu posso até influenciar-te com as minhas ideias, mas a escolha de mudar ou não, vai ser sempre sua.

 E como a Formiguinha não era de jogar conversa fora, já estava virando as costas para ir embora, quando voltou-se para o Homem e disse em tom solene:

_O fato é que o seu EGO não quer ser apenas maior do que “os OUTROS”, o que ele realmente quer é a oportunidade de ser maior que VOCÊ. Se você não souber como dominá-lo, chegará o dia em que nem mesmo você conseguirá reconhecer-se.

 

 

            Ilustração:   Cristina Alves

 

Veja na próxima publicação (05/11/2015):

Fábula Moderna: Deus , o Homem, a Formiguinha e o trabalho.

A história real, que está por trás da estória.

 

 

 

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